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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Um momento para Chico Buarque (Anos 70 - 90)



1970 - Seu retorno ao Brasil é marcado pelo "barulho" organizado por recomendação de Vinicius de Moraes: muita gente o esperando no aeroporto, manifestações de amigos, entrevistas à imprensa e um show marcado na boate Sucata para lançar seu quarto LP, um disco de transição, gravado em circunstâncias complicadas. Afasta-se do samba tradicional, variando mais a linha das composições e revelando novas influências como a toada, em Rosa dos ventos, até o iê-iê-iê italiano em Cara a cara. A mudança se reflete também nas letras, nas quais ele parece desvencilhar-se explicitamente do lirismo nostálgico e descompromissado que antes parecia identificá-lo.

Compõe Apesar de você, uma resposta crítica ao regime ditatorial no qual o país ainda estava imerso. Surpreendentemente, a música passaria incólume pela censura prévia e se tornaria uma espécie de hino da resistência à ditadura. Depois de vender cerca de 100 mil cópias, a canção é censurada, o disco é retirado das lojas e até a fabrica da gravadora é fechada. Para o público, não havia dúvidas: o "você" da música era o general Emílio Garrastazu Médici, então presidente da República, em cujo governo foram cometidas as maiores atrocidades contra os opositores do regime. Ao ser interrogado sobre quem era o "você" da canção, Chico responde: "É uma mulher muito autoritária". Após este episódio, o cerco às suas composições endurece.

Participa do Circuito Universitário, com shows promovidos pelos centros acadêmicos das universidades por artistas com dificuldades em mostrar seu trabalho nos meios de comunicação.

Ao lado, entre outros nomes, do arquiteto Oscar Niemeyer, do editor Ênio Silveira, e de seu próprio pai, participa do Conselho do Cebrade - Centro Brasil Democrático - organização de intelectuais publicamente comprometidos com a luta contra a ditadura. A aproximação com o Cebrade lhe valeria, durante bom tempo, o rótulo de membro da "linha auxiliar" de um dos dois partidos comunistas brasileiros, o PCB, pró-Moscou.

1971 - Em abril, é vetado integralmente pela censura seu samba Bolsa de amores, composto como brincadeira para Mario Reis, um aplicador contumaz das Bolsas de Valores. A alegação: a letra era ofensiva à mulher brasileira. O LP sai com uma faixa a menos que as doze habituais.

Rompe com a TV Globo e cancela sua inscrição, junto com outros convidados, no VI Festival Internacional da Canção, em sinal de protesto contra a censura e a tentativa de se utilizar o festival como veículo de propaganda a serviço da ditadura.




1972 - Desafia mais uma vez seu lado ator no filme Quando o carnaval chegar, de Cacá Diegues, vivendo o protagonista, ao lado de Nara Leão e Maria Bethania. Compõe quase todas as músicas do filme. Voltaria a fazer músicas para mais dois filmes de Cacá Diegues: Joanna francesa, em 1973, e Bye bye, Brasil, de 1979.

Traduz, com Ruy Guerra, o musical O homem de la mancha.
São deste ano as músicas Sonho impossível, Partido alto, Bom conselho e Atrás da porta, entre outras.

1973 - Escreve, com Ruy Guerra, a peça Calabar, ou o elogio da traição, cuja ação se passa no Brasil Colônia, onde é relativizada a posição de Domingos Fernandes Calabar que preferiu o invasor holandês ao colonizador português. Proibida pela censura, a peça somente seria liberada muito anos depois.

A música Cálice, feita em parceria com Gilberto Gil, é proibida. Desta vez não pela censura (que já havia vetado a letra), mas pela própria Phonogram. Com medo de represálias, a gravadora desliga os microfones do palco e impede Chico e Gil até mesmo de tocarem a melodia sem letra. O episódio contribuiria, mais tarde, para o rompimento do compositor com a gravadora.
Lança o jogo Ludopédio - criado durante o período que passou na Itália - uma brincadeira com times de futebol, rebatizado de Escrete, em 1982.

A censura proíbe a capa do disco Chico canta Calabar, com as músicas da peça.




1975 - Resiste às tentativas dos que querem transformá-lo em um símbolo da luta política contra o regime militar. Faz com, Maria Bethânia uma longa temporada de shows no Canecão, Rio de Janeiro. A letra de Tanto mar, uma saudação à Revolução dos Cravos - que depusera a ditadura salazarista em Portugal - é proibida pela censura e Chico grava um compacto em Portugal incluindo a canção aqui proibida. Anos depois a música seria liberada, mas Chico refaz a letra em função dos rumos tomados pela revolução portuguesa.
Fica nove anos sem encarar profissionalmente um palco, limitando-se a participar de eventos em benefício de causas sociais, como os shows de 1º de Maio, promovidos pelo Centro Brasil Democrático (Cebrade).

Escreve, em parceria com Paulo Pontes, a tragédia "greco-carioca" Gota d'água, uma releitura de Medéia, de Eurípedes, baseada em adaptação que Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, havia feito para a televisão. A peça se torna um dos maiores sucessos de crítica e público.
Ganha o Prêmio Molière como melhor autor teatral pelo seu trabalho em Gota d´água. Em protesto contra a censura, que proibira peças de vários autores, não comparece à cerimônia de entrega dos prêmios.

Compõe Vai trabalhar, vagabundo para o filme homônimo dirigido por Hugo Carvana.


1976 - Compõe O que será, para o filme Dona Flor e seus dois maridos, de Bruno Barreto. Por tê-la composto depois de ver uma coleção de fotos de Cuba, feitas pelo jornalista e escritor Fernando Morais, diz que a música é um "cubaião", mistura de Cuba com baião. Sai o disco Meus caros amigos.

1977 - Após seis anos distante de qualquer tipo de programação realizada nos estúdios da TV Globo, sua canção Maninha, é incluída trilha sonora da novela Espelho mágico. A partir de então, várias outras músicas suas seriam utilizadas como temas de novelas da Globo.
Compõe Feijoada completa para o filme Se segura, malandro, de Hugo Carvana.

Escreve o texto e compõe as canções da peça Ópera do malandro, dirigida por Luis Antônio Martinez Corrêa.

1978 - Em fevereiro vai a Cuba pela primeira vez, como jurado do Prêmio Literário da Casa de las Américas. Faz uma versão para a música Canción por la unidad latinoamericana, de Pablo Milanés. Entra em contato com Pablo Milanés, Silvio Rodriguez e outros nomes da "Nueva Trova" cubana, iniciando um processo de aproximação cultural entre os dois países que redundaria no reatamento das relações diplomáticas em 1986.
Ao voltar ao Brasil, é detido pelo DOPS junto a mulher, Marieta. O mesmo aconteceria com Antonio Callado e Fernando Morais, seus colegas de júri em Cuba. Todos são obrigados a prestar depoimentos sobre a viagem à ilha.

Estréia a peça Ópera do Malandro.

Inaugura o "Centro Recreativo Vinicius de Moraes", no Rio de Janeiro, local onde joga regularmente suas peladas e disputa campeonatos pelo Politheama. Lança o LP Chico Buarque 1978.

1979 - Compõe diversas músicas para cinema (para República dos assassinos, de Miguel Faria Jr., faz Sob medida e Não sonho mais; para Bye bye, Brasil, de Cacá Diegues, a música de mesmo nome) e teatro (Dueto, para a peça O rei de Ramos, de Dias Gomes).

Lança Chapeuzinho Amarelo, o primeiro livro infantil de sua autoria, ilustrado por Donatella Berlendis.

Calabar é finalmente liberada pela censura e estréia em São Paulo em 1980.
É lançado o álbum duplo Ópera do malandro.

1980 - Fecha contrato com a gravadora Ariola, após doze anos de Polygram. Por ironia do destino, a própria Polygram compraria a Ariola no ano seguinte.
A pedido da bailarina Marilena Ansaldi, faz as músicas para a peça Geni.
Participa da festa do Avante, órgão oficial do Partido Comunista Português, e do projeto Kalunga, em Angola, onde se apresenta, com mais 64 artistas brasileiros, por todo o país. A renda dos shows é destinada à construção de um hospital.
O cineasta argentino Maurício Berú realiza o documentário Certas palavras, sobre Chico Buarque, com participação - em números especiais ou depoimentos - de Caetano Veloso, Maria Bethânia, Vinícius de Moraes (que é filmado pela última vez), Toquinho, Francis Hime, Ruy Guerra, Miúcha, Sérgio Buarque de Hollanda e outros amigos e familiares.
Ainda em 1980, faz duas músicas para a peça O Último dos Nukupirus, de Ziraldo e Gugu Olimecha. Lança o LP Vida, que traz, entre outras, a música Eu te amo, feita especialmente para o filme homônimo de Arnaldo Jabor.

1981 - Participa, juntamente com Sérgio Bardotti, Antônio Pedro e Teresa Trautman, do roteiro de uma produção milionária: o filme Saltimbancos trapalhões, estrelado pelos Trapalhões.

Após 17 anos na gaveta, o livro A bordo do Rui Barbosa, poema escrito entre 63 e 64, é publicado com ilustrações do amigo Valandro Keating.
Lança os discos: Almanaque e Saltimbancos trapalhões.

1982 - Em parceria com Edu Lobo, compõe as canções para o balé O grande circo místico, que seria lançado em disco no ano seguinte.

Morre Sérgio Buarque de Hollanda, aos 79 anos de idade.

1985 - Trabalha na elaboração do roteiro e compõe novas canções para o filme Ópera do malandro, de Ruy Guerra, baseado em sua peça. Com Edu Lobo, compõe as músicas para a peça O corsário do rei, de Augusto Boal.

1986 - Comanda, ao lado de Caetano Veloso, o programa de televisão, Chico e Caetano, que permaneceu por sete meses na programação da Rede Globo, reunindo nomes expressivos da Música Popular Brasileira, além de estrelas internacionais.

Compõe As minhas meninas para a peça As quatro meninas e, finalmente, coloca letra na canção Anos dourados, uma parceria com Tom Jobim, encomendada pela Globo para ser o tema musical da minissérie de mesmo nome. A minissérie havia ido ao ar com a canção sem a letra porque Chico demorou a escrevê-la, ou como disse numa entrevista "a minissérie é que foi precipitada".


1987/88 -Lança o disco Francisco e volta aos palcos dirigido por Naum Alves de Souza. Em 1988, compõe com Edu Lobo as canções para o balé Dança da meia-lua.

1989 - Compõe Trapaças, para o filme Amor vagabundo, de Hugo Carvana, onde faz uma ponta interpretando sua própria criação, Julinho da Adelaide.

A editora Companhia das Letras publica o songbook Chico Buarque Letra e Música, com prefácios de Tom Jobim e Eric Nepomuceno, e o texto Gol de letras, de Humberto Werneck. Lança o disco Chico Buarque.

1991/92 - Lança seu primeiro romance, Estorvo, publicado pela Companhia das Letras, com o qual ganha o "Prêmio Jabuti de Literatura". Os direitos de publicação de Estorvo são rapidamente vendidos para sete países: França, Itália, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Estados Unidos e Portugal. Neste último, a venda atingiu 7.500 exemplares em apenas três dias, surpreendendo a Editora Dom Quixote.

1994/95 - Sobe aos palcos, em janeiro de 94, para fazer o show do disco Paratodos, lançado no final de 93 e que é recebido com grande expectativa depois de um jejum de quatro anos sem gravar.
Participa da "Campanha Nacional Contra a Fome e Pela Cidadania", do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.

Escreve o segundo romance, Benjamim, que, lançado em 1995, recebe críticas desfavoráveis de parte da crítica literária, não obstante o sucesso de vendas e os elogios de grandes nomes da literatura.

1996 - Nasce, no dia 24 de agosto, no Rio de Janeiro, o neto Francisco Buarque de Freitas, filho de sua filha Helena Buarque e do músico baiano Carlinhos Brown.

Participa da "Campanha pela Paz no Futebol".

1997 - Participa do disco Chico Buarque de Mangueira, com regravações de clássicos dos compositores da escola e com uma composição inédita sua, em parceria com Hermínio Bello de Carvalho: Chão de esmeraldas.

Com duas canções inéditas (Levantados do chão e Assentamento) e duas regravações (Brejo da Cruz e Fantasia), grava um CD para o livro Terra, do fotógrafo Sebastião Salgado, publicado com texto do escritor português José Saramago. O trabalho foi lançado no dia 17 de abril, véspera do aniversário do massacre de trabalhadores sem-terra em Eldorado dos Carajás, região Norte do Brasil.

1998 - É o homenageado no desfile em que a Mangueira sagrou-se campeã do carnaval de 1998. De Paris, escreve artigos para os jornais O Estado de S. Paulo e O Globo durante a Copa do Mundo. O CD As cidades, com sete canções inéditas e quatro regravações, chega às lojas cinco anos depois de Paratodos. É seu primeiro trabalho lançado na Internet.

1999 - Durante um ano percorre o Brasil com o show As Cidades. Segue em turnê pelo exterior, apresentando-se na Argentina, Uruguai, Portugal, França, Inglaterra e Itália. O espetáculo é um sucesso absoluto de público e crítica. Chico canta e toca dez das onze músicas de CD homônimo, além de canções consagradas como Vai passar, O meu amor e Construção.

Encerra a temporada de As Cidades empolgado com o resultado e qualidade dos shows. Decide, então, lançar Chico ao vivo, um álbum duplo com 29 músicas. O trabalho é o seu quarto CD ao vivo. Os quatro anteriores foram: Caetano e Chico juntos e ao vivo; Chico Buarque e Maria Bethânia ao vivo; Melhores momentos de Chico e Caetano; e Chico ao vivo Paris Le Zenith.


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